Cancro e Atividade Física
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera inquestionável que o cancro é um problema de saúde pública mundial, especialmente entre os países em desenvolvimento, sendo estimados 20 milhões de casos novos para 2025. Há cinco anos a estimativa foi de uma incidência de 14 milhões de casos e 60% ocorreram em países em desenvolvimento. Para a mortalidade, dos 8 milhões de óbitos previstos, 70% ocorreram nesses mesmos países (World Cancer Research Fund 2018).
Em 2010, a Organização Mundial de Saúde (OMS) identificava a inatividade física como o 4º fator contribuinte para a mortalidade global, responsável por 6% das mortes, apenas precedida pela hipertensão arterial, tabagismo e hiperglicemia (Joaquim, 2020).
De acordo com o Programa Nacional de Promoção da Atividade Física, considerando estes fatores, estima-se que, em Portugal, a inatividade física seja responsável por: 14% dos casos de cancro da mama; 15% de cancro colorretal (Direção Geral de saúde (DGS), 2017)
Atividade física: movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resultam em gasto energético. Pode ser ligeira, moderada e vigorosa.
A Inactividade física é reconhecida actualmente como um dos fatores de risco nesta doença (Joaquim, 2020).
Segundo a Frame work publicada em 2001 a experiência do cancro divide-se em 2 fases pré-diagnóstico (pré-rastreio e de rastreio/diagnóstico) e 4 fases pós-diagnóstico (pré-tratamento, tratamento, pós-tratamento e retorno), na qual era referida que a actividade física poderia ter impacto, nomeadamente na prevenção, pré-habilitação, tolerância aos tratamentos, reabilitação e paliação (Joaquim, 2020).
Fase pré-diagnóstica e prevenção:
As pessoas menos ativas têm maior probabilidade de ter as ditas doenças não transmissíveis, como a doença cardiovascular, a diabetes e o cancro. Em 2010, a OMS estimava que a inatividade física fosse a principal causa de 21 a 25% dos casos de cancro da mama e de cancro do cólon. (Joaquim, 2020). A evidência, desde então, tem aumentado pelo que, em 2018, a OMS atualizou a lista das neoplasias cujo risco parece aumentar com a inatividade física, passando a incluir, também, cancro da bexiga, do endométrio, esófago, rim e pulmão (Joaquim, 2020).
Neste ano, foi publicada a análise de 755459 indivíduos (dos EUA, Europa e Austrália), seguidos ao longo de vários anos. Neste estudo, confirmou-se que o cumprimento das recomendações da atividade física parece estar associado à redução do risco de algumas neoplasias (cancro da mama, cólon, endométrio, rim, mieloma, fígado e linfoma não Hodgkin (Joaquim, 2020).
Fase Pós-diagnóstica:
A medida mais utilizada é a aptidão cardiorrespiratória (ACR), avaliada pela prova de esforço. Esta avalia a função cardiovascular global. Sabe-se que diminuições da ACR estão relacionadas com maior ocorrência de toxicidades dos tratamentos, maior gravidade da fadiga e aumento da mortalidade geral.
Um programa de exercício físico destinado a aumentar a ACR antes das cirurgias permite recuperar a ACR para valores similares ao baseline após a recuperação pós-operatória (Joaquim, 2020).
Durante os tratamentos:
Durante a quimioterapia, também existe evidência robusta sobre os efeitos do exercício físico, nomeadamente de intensidade moderada-intensa e combinado (aeróbio e resistido), a nível da funcionalidade física e efeitos secundários da quimioterapia (Joaquim, 2020).
Um dos efeitos secundários que mais interesse tem suscitado é a cardiotoxicidade dos tratamentos médicos e/ou radioterapia do mediastino ou parede torácica. O exercício físico é uma medida terapêutica não farmacológica recomendada pela American Heart Association em 2019, bem como pela European Society of Medical Oncology. Contudo, a posologia dirigida a este efeito ainda não está definida.
Reabilitação Pós-tratamento:
Após o tratamento, são vários os problemas para os quais a evidência científica é forte o suficiente no que diz respeito à dose adequada. São eles: ansiedade, depressão, fadiga, qualidade de vida e funcionalidade física. Isto significa que existem referenciais já estabelecidos de exercício físico de
forma a atenuar estes problemas relacionados com o cancro e o seu tratamento. De acordo com as mesmas recomendações, do American College of Sports Medicine, também para o linfedema relacionado com o cancro da mama, a evidência é forte o suficiente para se considerar que, sob supervisão adequada, não existe risco de agravamento (Joaquim, 2020).
Doença Avançada:
A este nível, apesar de menos robusta, existe evidência suficiente para o exercício físico, tanto aeróbio como resistido, ser recomendado nos doentes com doença avançada com melhoria na funcionalidade, na fadiga e na qualidade de vida (Joaquim, 2020).
Considerações finais
No caso da doença oncológica, é uma medida terapêutica de suporte que, como referido antes, tem efeito benéfico em vários problemas dos doentes e sobreviventes oncológicos. Tal como os restantes tratamentos, é benéfica quando prescrito de forma adequada (Joaquim, 2020).
Assim, é importante referir que a prescrição do exercício físico deve ser realizada de acordo com os princípios FITT – frequência, intensidade, tipo e tempo. É a junção destes que permite atingir as doses adequadas (Joaquim, 2020).
A prescrição de exercício físico deverá ser encarada com a responsabilidade de outras prescrições, sejam de medicamentos ou de medidas. Deverá ser efetuada por profissionais com competência e que estejam enquadrados em equipas multidisciplinares, que tenham rede de suporte para resolver potenciais complicações (Joaquim, 2020).
Anexo
Autoras: Enfermeira Raquel Costa e Enfermeira Ana Peixeira
Referências bibliográficas:
Direcção Geral da Saúde (2017).O Custo da Inatividade física. https://www.sns.gov.pt/noticias/2017/02/13/prevencao-do-sedentarismo/.
Joaquim, Ana (2020). Exercício físico e Cancro. (Joaquim, 2020). https://pulmonale.pt/category/artigos-cientificos/
World Cancer Research Fund (2018). Physical Activity and the risk of cancer. https://www.wcrf.org/sites/default/files/Physical-activity.pdf
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